por alguém que aprendeu que o melhor lugar do mundo pode ser a mesa da sala

Não há manual que nos prepare para o turbilhão silencioso de um domingo com a família reunida. Aquele barulho que começa no portão — risos, passos apressados, vozes que se atropelam — não é bagunça, é música de afeto.
A mesa vai se enchendo. Primeiro de pratos, depois de histórias. Alguém conta algo pela terceira vez, e mesmo assim todo mundo ri. Um sobrinho pede o mesmo suco de sempre, como se fosse tradição. A avó, entre um comentário e outro, cheira o cabelo dos netos com aquele gesto que resume o amor inteiro da existência. E a gente ali, no meio de tudo, com a alma aquecida sem saber exatamente por quê.
Talvez porque, num mundo de urgências, estar com a família é um intervalo sagrado. É onde podemos ser quem somos, sem edição. Onde até os silêncios são bem-vindos, porque não precisam se justificar. Há algo profundamente alegre na simplicidade de estar entre os nossos — como se o tempo descansasse ali, só para nos ver sorrir juntos.
Tem quem diga que alegria é euforia, festa, conquista. Eu discordo. Alegria mesmo é um domingo morno com cheiro de comida da infância, é o abraço apertado do irmão que você não vê há meses, é o conselho não pedido da tia que se preocupa mais com você do que você mesmo.
Estar com a família é lembrar que a vida tem raiz. Que há braços que seguram mesmo quando o mundo desaba. E que às vezes, a maior felicidade do mundo mora ali — numa tarde qualquer, ao redor de uma mesa, entre gargalhadas, guardanapos e memórias que a gente nem sabia que precisava reviver.
Porque no fim, é isso: a alegria de estar com a família não grita — ela acolhe. E mora onde o coração encontra casa.